Desemprego e trabalhos agrícolas dificultam alfabetização no Bilene
Mozambique
A alfabetização de adultos no distrito do Bilene, província de Gaza, continua a enfrentar grandes desafios. O desemprego e a dedicação à agricultura têm condicionado a assiduidade dos participantes, sobretudo durante a época da sementeira.
Laura Cuco, alfabetizadora no Círculo Eduardo Mondlane, acompanha de perto essa realidade. Atuando desde 2024 no âmbito do Programa Integrado de Alfabetização de Adultos, implementado pela AMODEC – Associação Moçambicana para o Desenvolvimento das Comunidades, ela relata os principais entraves enfrentados.
— Do ponto de vista de actividades, faço uma avaliação positiva desde que comecei a trabalhar com alfabetização, no ano passado. Temos trabalhado bem. Só que quando chega a época da sementeira, torna-se um desafio, porque os alfabetizandos vão à machamba — explica.
Outro obstáculo mencionado por Laura é a reduzida participação dos homens nas aulas.
— Estou com poucos homens na minha turma. Eles dizem que não têm tempo para estudar porque trabalham e saem à noite — afirma.
Além da baixa frequência, os alunos que comparecem nem sempre estão em condições ideais para aprender.
— Eles chegam ao centro com aparência de cansados, porque alguns são trabalhadores sazonais. Então, há dias que não aparecem, por causa dos biscates na machamba — conta.
Educação Integrada como alternativa
Apesar dos desafios, o programa tem buscado formas alternativas para tornar a aprendizagem mais atrativa e relevante. Uma dessas estratégias é a inclusão de temas de educação integrada, com foco em gestão de pequenos negócios, poupança e geração de renda.
— A nossa alfabetização centra-se também em Educação Integrada, resumida em fundo de cabaz e negócio — explica.
O fundo de cabaz consiste numa contribuição regular dos beneficiários ao longo do ano, com o objetivo de juntar dinheiro para a compra de mantimentos destinados à quadra festiva do Natal e fim de ano. Já o fundo de negócio visa apoiar as famílias nas despesas domésticas e outras necessidades básicas, funcionando como uma pequena reserva financeira para emergências ou investimentos em atividades geradoras de renda.
Além disso, os participantes são incentivados a expor os seus produtos numa feira comercial promovida no próprio centro.
— Já implementamos a feira comercial, onde cada participante traz o seu produto para vender no centro. Começamos a vender para os alunos e os professores. São produtos diversos, como batata-doce, frangos, óleo de cozinha, caldo, e muito mais — destaca Laura.
O objetivo, segundo a alfabetizadora, é ver os participantes avançarem para novas oportunidades.
— O meu desejo é vê-los num estágio diferente, podendo ser trabalhadores, e pelo menos alguns se tornarem funcionários do Estado, partindo daquele conhecimento da alfabetização.
As aulas decorrem em horários flexíveis, ajustados à disponibilidade dos participantes.
— Temos tido horários que variam das 13h às 14h e das 15h às 16h. Eles é que determinam o horário, de acordo com a disponibilidade — conclui.